Muitos já ouviram falar deste personagem criado por Willian Shakespeare. Talvez muitos mais já ouviram ou brincaram com a citação "Ser ou não ser, eis a questão", muitas vezes repetida popularmente nas mais diferentes situações. Mas acredito que poucos tiveram o privilégio de assistir a esta peça e, talvez, menos ainda conseguiram ir além da simples história e mergulhar na complexidade e densidade do personagem protagonista.
Hamlet, o homem, é mais que um personagem: Hamlet, como já se disse, somos todos nós, com nossas dúvidas e culpas, nossas aspirações e desânimos, nossas vontades e incertezas. Somos nós com nossos inconformismos que nos levam a ficar em dúvida entre aceitar ou lutar. Segundo o escritor, poeta e crítico Mark Van Doren (Shakespeare: 1939), Hamlet tem sido considerado o melhor e o pior dos homens. Poderíamos então dizer que Hamlet é um epítome da natureza humana.
Hamlet é um personagem mergulhado na tormenta de ter que decidir entre dois caminhos: se conformar com o crime contra o qual ele pode pouco ou se opor à injustiça se arriscando a perder tudo, desde o amor de sua mãe até a própria vida. Esse dilema o leva a questionar o real valor das coisas, da honra e da vida.
A seguir eu apresento a versão em português, de Luiz Angélico da Costa, linha por linha, em decassílabos não rimados:
O solilóquio de Hamlet
(Ato III, Cena 1)
Ser ou não ser; essa é toda a questão:
Se mais nobre é em mente suportar
Dardos e flechas de ultrajante sina
Ou tomar armas contra um mar de angústias
E firme, dar-lhes fim. Morrer: dormir;
Não mais; dizer que um sono porá fim
À dor do coração e aos mil embates
De que é herdeira a carne!... é um desenlace
A aspirar com fervor. Morrer, dormir;
Dormir, talvez sonhar: eis o dilema,
Pois no sono da morte quaisquer sonhos
- Ao nos livrarmos deste caos mortal -
A paz nos devem dar. Esta é a razão
De a vida longa ser calamidade,
Pois quem do mundo os males sofreria:
A injustiça, a opressão, a vã injúria,
O amor magoado, as delongas da lei,
O abuso do poder e a humilhação
Que do indigno o valoroso sofre,
Quando ele próprio a paz encontraria
Em seu punhal? Quem fardo arrastaria,
Grunhindo, suarento, em triste vida,
Senão porque o pavor do após-a-morte
- Ignota região de cujas linhas
Não se volta - a vontade nos confunde
E nos faz preferir males que temos
A buscar outros que desconhecemos?
Assim nos faz covardes a consciência,
E o natural fulgor da decisão
Sucumbe à débil luz da reflexão;
E assim projetos de vigor e urgência
Em vista disto seus cursos desviam
E perdem o nome de ação. Oh, cala-te!
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