As recentes pesquisas na área da genética, especificamente as relacionadas aos mapeamentos dos diversos genomas das espécies, têm mostrado que não diferimos dos outros animais tanto quanto pensávamos. E quando comparamos humanos com chimpanzés, nossos parentes evolutivos mais próximos, as diferenças entre os genomas se reduzem à aparentemente insignificantes menos de 1% das bases (ou das "letras" - A, T, G, C - que formam as longas sequencias do DNA). Em outras palavras, se colocássemos nossos cromossomos lado a lado com os dos chimpanzés e os comparássemos encontraríamos poucas diferenças. Entretanto, ao comparamos as poucas sequencias em que somos diferentes dos chipanzés, tendo em perspectiva as sequencias equivalentes que encontramos nos outros animais, percebemos alguns traços do que nos faz especificamente humanos. Exemplo disso está na descoberta da equipe da dra. Katherine Pollard, bioestatística da University of California, que verificou que, embora sejamos geneticamente muito próximos dos chimpanzés, diferimos significativamente destes e de todos os outros animais em pequenas sequencias que parecem ser cruciais para o desenvolvimento de estruturas anatômicas que definem nossa humanidade, tal como o cérebro.
Katherine Pollard iniciou sua pesquisa como uma tentativa de mapear e entender especificamente as sequencias que nos diferenciam dos chimpanzés, aquele pequeno grupo de menos de 1% das letras (15 milhões em 3 bilhões de letras). Se deparou com um pequeno grupo de 118 letras, batizado por ela de HAR1 (abreviação em inglês para região 1 da aceleração humana), que sabe-se agora codifica RNA e interfere na ação de outros genes que têm ação decisiva na formação e funcionamento do córtex cerebral dos vertebrados. O HAR1, como foi descoberto por Pierre Vanderhaeghen, da Universidade Livre de Bruxelas, é ativo num tipo de neurônio que tem importante participação na formação do córtex cerebral quando o animal está em desenvolvimento (seu mal funcionamento pode levar a lissencefalia, ou cérebro liso, que é mortal) e no funcionamento posterior desse cérebro (seu mal funcionamento está ligado, por exemplo, ao início da esquizofrenia em adultos). Mas o mais incrível está no que Katherine Pollard descobriu sobre as diferenças entre essas sequencias HAR1 nas diferentes espécies de vertebrados. Estas 118 letras permaneceram praticamente inalteradas em sua sequencia por mais de 300 milhões de anos na maioria dos vertebrados já mapeados, o que faz com que, por exemplo, o HAR1 do chimpanzé seja diferente do HAR1 da galinha em apenas 2 letras. Mas o HAR1 dos humanos, contrastando com a relativa uniformidade nos demais vertebrados, é significativamente diferente em relação ao dos chimpanzés, acumulando 18 diferenças. Poderíamos supor que a singularidade do cérebro humano e de suas capacidades cognitivas representam um salto evolutivo devido a significativas mudanças em poucas mas importantes sequencias do DNA, tal como verificamos no HAR1, que distinguem o humano de todos os outros animais.
(referência: POLLARD, Katherine S. - "O que nos faz humanos" in Revista Scientific American Brasil, pgs. 34 a 39, ed. Duetto, número 84, maio de 2009)
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