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12 dezembro 2011

A luta contra o racismo depende de nossa indignação.

Para entender meu comentário, antes leiam este blog do André Forastieri.

Nem injustiça, nem racismo: o mundo é assim

Ester é funcionária num colégio e foi repreendida por não alisar o cabelo e por não esconder seu "quadril largo". Na opinião do colégio isso a torna inadequada para receber o público. Ester se sentiu ultrajada por ser repreendida por características próprias e naturais de sua etnia. Ester é negra.

Para justificar que o "mundo é assim" o autor do blog usou o exemplo de um jornalista que teve sua matéria cortada porque a gravou usando jeans e tênis. Deu mais exemplos: médicos usam branco e advogados usam gravata. Pergunto: o que isso tudo tem a ver com características do corpo? Não nascemos com jeans, o escolhemos. Mas quem escolhe suas características físicas como textura de cabelo e tamanho de quadril?


Algumas linhas antes o autor já tinha argumentado que não haveria problema nenhum no fato da funcionária ser negra desde que se adequasse ao padrão estético da empresa o que, no caso em foco, significaria diminuir seu quadril e alisar o cabelo. Ou seja, seria perfeita para a função de recepção desde que fosse uma negra sem características de negra, mudando coisas com as quais ela nasceu.

E o autor do blog ainda deu o exemplo das recepcionistas em lojas e academias. Quando uma academia contrata recepcionistas com corpo atlético está tentando passar ao cliente imagem de sucesso no controle de peso. Isso é altamente questionável, pois não entendo porque uma pessoa mais gorda não poderia receber bem os clientes de uma academia. Mas entendo o que se tenta dizer ao cliente: "venha ser magra como eu". Quando uma loja fina de shopping contrata garotas, nas palavras do autor, "magras e elegantes" também está, de forma questionável, tentando passar ao cliente a mensagem que diz: "venha ser elegante como eu". E o caso da Ester? Como podemos entender? Por acaso ela não serve para recepcionar pais de alunos do colégio pois seus quadris e seu cabelo (e, quem sabe, sua etnia) não são adequados para passar a mensagem "venha ser inteligente e bem sucedido na vida como eu"? Se isso não é racismo então não sei mais o que é...

Sim, o mundo é assim mesmo. Cheio de pessoas que julgam e estigmatizam outros somente por terem "cometido o pecado" de não serem iguais a eles. E o que vamos fazer a respeito? Deixar passar somente porque as coisas "são assim"? E quem disse que as coisas têm que ser assim?

Lamento profundamente que um jornalista se preste a usar sua profissão para defender o indefensável e justificar o injustificável. Qualquer um é capaz de preceber que os padrões de beleza são convenções sociais, que não existe o certo ou errado para além da cultura. Padrões de beleza mudam ao longo da história e assim deve ser. Nem sempre médicos usaram branco, nem sempre advogados usaram gravata, mas sempre existiu a discriminação e o racismo que define o semelhante como adequado e o diferente ou estrangeiro como inadequado.

Padrões de beleza são impostos por classes formadoras de opinião e, na nossa sociedade de consumo, também moldados pelos interesses de empresas e agências de propaganda. Ou seja, "o mundo é assim" porque alguns ganham muito com o "enquadramento" de outros. Mas o mundo pode ser outro e isso depende de nós.

DEPENDE DE NOSSA INDIGNAÇÃO!



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