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23 agosto 2013

Médicos e a defesa do óbvio

O chanceler Antonio Patriota, em declarações perante a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, disse que a decisão de contratar médicos cubanos "foi tomada em função de considerações dos melhores serviços possíveis" e "não tem motivação ideológica", pois "há muitos médicos cubanos dispostos a fazer esse tipo de trabalho, talvez não tenha muitos médicos austríacos, por exemplo, dispostos a fazer esse trabalho.” Fui só eu que entendi a fina ironia nas palavras do chanceler? Não são essas palavras, por si só, provas da motivação ideológica da decisão de trazer médicos cubanos?

Sei que muitos vão dizer que essas palavras não têm nada de mais, principalmente os que têm por hábito primeiro verificar quem falou para depois decidir se falou a verdade ou não.

Não é óbvia a resposta? Claro que médicos austríacos (supondo que sejam excelentes médicos, como a ironia dá a entender) não querem trabalhar nas comunidades carentes do Brasil, onde a estrutura é precária e falta de tudo. Na verdade, nenhum médico desejaria se submeter a uma situação dessas. De modo geral, salvo raras e nobres exceções, médicos são pessoas comuns que, como qualquer outro profissional, desejam ter uma carreira e condições de trabalho adequadas... Exceto os cubanos! E dai vem a pergunta: o que os médicos cubanos têm de diferente que os leva a aceitar uma missão que nenhum outro está disposto a aceitar?

Mais uma vez: não é óbvia a resposta? Tratam-se de médicos vindos de um país onde liberdade de expressão e vontade pessoal não significam nada e onde se deve prestar juramento ideológico ao Estado para se ser incorporado a essas missões internacionais. Eles estão nessa missão para fazer propaganda do regime cubano, assim como para angariar recursos para o governo de cuba, que confisca parte de seus salários, e não porque são grandes humanitaristas. Mas até ai não há mal algum nisso. O problema é quando o governo do Brasil decide trazer esses médicos justamente por causa dessa característica: por serem cubanos e por terem uma motivação ideológica.

Pois a frase do chanceler demonstra bem essa motivação ideológica: se os médicos austríacos são uma boa opção, se são bons como a ironia do chanceler insinuou, porque se contentar com pouco? Porque não se busca criar as condições para que eles desejem vir ao Brasil? Se a ideia é ter um sistema de saúde bom e eficiente, porque não atrair os melhores médicos oferecendo-se melhores condições? Porque se conformar com os cubanos, que foram os únicos que aceitaram? Mais ainda: porque o governo federal não está debatendo os motivos pelos quais os médicos brasileiros e de outros países não quiseram ir para as comunidades mais carentes? Porque não vejo ninguém do governo questionar as condições que esses médicos cubanos vão ter que enfrentar? Porque estão todos mobilizados na missão de justificar a opção pelos médicos cubanos?

Ainda não está óbvio? Porque do jeito que está é como eles querem que fique. Deste jeito, com postos de saúde precários, só os cubanos aceitam vir para o Brasil, que é exatamente o que o chanceler Antonio Patriota e sua presidente querem. Esses médicos, inseridos em comunidades carentes e remotas do Brasil, não vão poder fazer muito pela saúde dessas comunidades, mas vão fazer uma propaganda que fará a diferença na campanha para a reeleição da presidente Dilma. Afinal de contas, qualquer médico estrangeiro inserido nessas comunidades seria um risco, pois poderia denunciar a farsa do Programa Mais Médicos à imprensa, coisa que dificilmente farão os dóceis e doutrinados médicos de Raúl Castro.

 
Se ainda não está obvia a motivação do Programa Mais Médicos, só me resta citar Bertold Brecht, dramaturgo alemão marxista falecido em 1956, para as palavras de encerramento do texto:



"Que tempos são estes, em que é necessário defender o óbvio?"

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