O chanceler Antonio Patriota, em declarações perante a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, disse que
a decisão de contratar médicos cubanos "foi tomada em função de considerações dos melhores serviços
possíveis" e "não tem motivação ideológica", pois "há muitos médicos cubanos dispostos a fazer esse tipo de trabalho, talvez não tenha muitos médicos austríacos, por exemplo, dispostos a fazer esse trabalho.”
Fui só eu que entendi a fina ironia nas palavras do chanceler? Não são essas
palavras, por si só, provas da motivação ideológica da decisão de trazer
médicos cubanos?
Sei
que muitos vão dizer que essas palavras não têm nada de mais, principalmente os
que têm por hábito primeiro verificar quem falou para depois decidir se falou a
verdade ou não.
Não é óbvia a resposta? Claro que médicos austríacos (supondo que sejam excelentes
médicos, como a ironia dá a entender) não querem trabalhar nas comunidades
carentes do Brasil, onde a estrutura é precária e falta de tudo. Na verdade,
nenhum médico desejaria se submeter a uma situação dessas. De modo geral, salvo
raras e nobres exceções, médicos são pessoas comuns que, como qualquer outro
profissional, desejam ter uma carreira e condições de trabalho adequadas...
Exceto os cubanos! E dai vem a pergunta: o que os médicos cubanos têm de
diferente que os leva a aceitar uma missão que nenhum outro está disposto a
aceitar?
Mais uma vez: não é óbvia a resposta? Tratam-se de médicos vindos de um país
onde liberdade de expressão e vontade pessoal não significam nada e onde se
deve prestar juramento ideológico ao Estado para se ser incorporado a essas
missões internacionais. Eles estão nessa missão para fazer propaganda do regime
cubano, assim como para angariar recursos para o governo de cuba, que confisca
parte de seus salários, e não porque são grandes humanitaristas. Mas até ai não
há mal algum nisso. O problema é quando o governo do Brasil decide trazer esses
médicos justamente por causa dessa característica: por serem cubanos e por
terem uma motivação ideológica.
Pois a frase do chanceler demonstra bem essa motivação ideológica: se os
médicos austríacos são uma boa opção, se são bons como a ironia do chanceler
insinuou, porque se contentar com pouco? Porque não se busca criar as condições
para que eles desejem vir ao Brasil? Se a ideia é ter um sistema de saúde bom e
eficiente, porque não atrair os melhores médicos oferecendo-se melhores
condições? Porque se conformar com os cubanos, que foram os únicos que
aceitaram? Mais ainda: porque o governo federal não está debatendo os motivos
pelos quais os médicos brasileiros e de outros países não quiseram ir para as
comunidades mais carentes? Porque não vejo ninguém do governo questionar as
condições que esses médicos cubanos vão ter que enfrentar? Porque estão todos
mobilizados na missão de justificar a opção pelos médicos cubanos?
Ainda não está óbvio? Porque do jeito que está é como eles querem que fique.
Deste jeito, com postos de saúde precários, só os cubanos aceitam vir para o
Brasil, que é exatamente o que o chanceler Antonio Patriota e sua presidente
querem. Esses médicos, inseridos em comunidades carentes e remotas do Brasil,
não vão poder fazer muito pela saúde dessas comunidades, mas vão fazer uma
propaganda que fará a diferença na campanha para a reeleição da presidente
Dilma. Afinal de contas, qualquer médico estrangeiro inserido nessas
comunidades seria um risco, pois poderia denunciar a farsa do Programa Mais
Médicos à imprensa, coisa que dificilmente farão os dóceis e doutrinados
médicos de Raúl Castro.
Se ainda não está obvia a
motivação do Programa Mais Médicos, só me resta citar Bertold Brecht,
dramaturgo alemão marxista falecido em 1956, para as palavras de encerramento
do texto:
"Que tempos são estes, em que é
necessário defender o óbvio?"
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