Debate-se se a manifestação do candidato Levy Fidelix no recente debate eleitoral realizado pela TV Record, especificamente aquela em que ele se posiciona contrário ao casamento homoafetivo e à homossexualidade em geral (e, de quebra, nos dá uma aula de biologia ao ressaltar que "o aparelho excretor não reproduz"), foi ou não uma manifestação preconceituosa ou racista. Muitos ressaltam que ele tem o direito de se posicionar como contrário ou a favor de qualquer assunto, num legítimo exercício de liberdade de expressão, mas devo confessar que tenho minhas dúvidas a esse respeito.
Realmente é verdade que todos nós temos o direito
de expressar nossas opiniões. O problema é quando alguém as expressa de
forma a incitar ou, ao menos, reforçar uma atitude preconceituosa ou racista de outros,
mesmo que o sujeito não tenha essa intenção. Somos responsáveis pelos
efeitos funestos que nossa opinião possa causar quando a expressamos
publicamente de forma inadequada ou imprópria, como foi no caso dele. Ainda mais numa televisão. Destaque-se que ele
chegou a pregar o enfrentamento contra os homoafetivos, o que é
inaceitável para um candidato ao posto máximo da república!
Mas vamos
pensar. E se ele se limitasse a dizer que não gosta de
homossexualidade; pode ou não pode? Se ele dissesse que não gosta,
embora reconhecesse nela uma possibilidade válida, eu não veria problema. É
como alguém dizer que não gosta de futebol. O problema é quando se passa a
dizer que o futebol é imoral, que desvirtua a família e que jogador de
futebol deve ser combatido como se fosse um mal na sociedade! Nesse
caso eu diria que é preconceito sim.
Veja outro exemplo: Eu posso
dizer que não gosto de "João", que por acaso é gay, por que o conheço e
ele não é honesto. É opinião fundamentada. Posso também dizer que não
gosto de "Maria" por que ela falou mal de mim para a namorada dela, e
não estarei necessariamente sendo preconceito. Posso até dizer que não me interesso por transar
com pessoas do meu sexo, nem gosto de manter relacionamentos afetivos com
elas, e ainda assim eu permaneceria no campo do meu direito a gosto. Mas como
posso dizer que não gosto "dos homoafetivos"? A menos que conheça cada
um deles individualmente e tenha motivos para os detestar a cada um,
dizer isso é generalização. E, portanto, pré / conceito. Ele poderia ter
dito que não pretende casar com outro homem, poderia ter dito que a
fé religiosa dele diz que só homem e mulher podem casar (é absurdo, mas
ainda assim é uma opinião possível). Pode até dizer, como disse, que não apoiará uma lei nesse sentido (estamos numa democracia). Mas declarar que é errado (juízo de
valor), que destrói a família e que provocará uma drástica redução da população (com base em que evidências ou estudos sociológicos ele declara isso?) e que os homoafetivos devem ser
"enfrentados" é exagerar muito para um homem público! É espalhar intolerância baseada em argumentos não fundamentados, que só agravam o preconceito e a violência contra todo um grupo social.
Mas concordo com quem diz que existem exageros e radicalizações dos dois lados desse debate. Cristãos conservadores em geral e militantes LGBT costumam exagerar na dose, colocado mais lenha na fogueira, o que acaba por dificultar o entendimento e torna o debate honesto quase inviável. Religiosos como ele
acham que são herdeiros da autoridade divina e atacam a
homoafetividade como se fossem baluartes do bem, da moral e do seu
criador. Não entendem que no debate político não existe autoridade maior
que a do povo e a da lei, acima de qualquer mandamento bíblico (estamos num estado laico, não é?). Por
outro lado, já vi militantes das causas LGBT enxergarem preconceito em
tudo, até em meras manifestações de gosto particular não ofensivas.
Existe sim um certo patrulhamento de ambos os lados. Mas, se me permitem dizer, acho que os
eventuais exageros da militância LGBT não representam nem um décimo das
humilhações e desrespeitos que homoafetivos têm sofrido neste País
racista, preconceituoso, supersticioso e intolerante.
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