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01 outubro 2007

História: A crise do petróleo

Vamos falar um pouco de história e política internacional.
Eu cresci acreditando que a crise do petróleo no início da década de 70 era o resultado da união de países de terceiro mundo exportadores de petróleo (até então pobres) que se impuseram frente aos países industrializados para exigir melhores preços para seu principal produto de exportação. Deixando de lado questões paralelas sobre as motivações de cada um desses países (Líbia, Argélia, Iraque, Venezuela, Arábia Saudita e outros), o fato é que ficava para mim a impressão de que países sub-desenvolvidos e pobres poderiam se unir e fazer frente ao poder econômico e político dos países ricos, defendendo assim seus interesses. Quanta ingenuidade.
Esta semana o 'The History Channel' apresentou um documentário francês sobre a história do petróleo e muitos fatos se tornaram claros para mim. Uma das respostas que encontrei é para a pergunta: "como que países poderosos, ricos e altamente dependentes do petróleo, como os Estados Unidos, permitiram que uma 'rebelião' como essa acontecesse de modo quase impune, levando em poucos meses o preço do petróleo de US$2,50 para mais de US$10,00 o barril?" A explicação tradicional é que por causa da guerra do "Yom Kippur" (evento que ocorreu imediatamente antes da crise do petróleo e que quase deixou Israel de joelhos perante seus vizinhos), os Estados Unidos, aliado de Israel, preferiram amargar uma alta de mais de 300% no preço do petróleo para não piorarem mais ainda a crise que se instalava no Oriente Médio e conseguirem um cessar-fogo. Em outras palavras, os membros da OPEP se aproveitaram da crise para imporem um novo preço aos países ricos. Entretanto, do mesmo modo que os Estados Unidos usaram a desculpa do '11 de setembro' para invadirem o Iraque o obterem lucros com a guerra e a exploração de petróleo no quintal de Saddan Hussain, por incrível que possa parecer, também usaram a desculpa da crise no Oriente Médio para obterem lucro com a 'rebelião' da OPEP!
Explico. O fato é que o petróleo do Oriente Médio era muito barato. Qualquer um que tenha mais de 50 anos vai lembrar que, antes da crise do petróleo, encher o tanque de um carro era muito barato e pesava quase nada no orçamento de uma família. Este foi um dos fatores que proporcionou grandes ganhos para os países industrializados importadores de petróleo, que cresciam sem parar com tão barata fonte de energia. Os países sub-desenvolvidos que dependiam da importação do petróleo, como o Brasil, também obtinham vantagens da situação embora em menor proporção. No outro lado da moeda estavam os países exportadores, que tinham suas economias fortemente dependentes da venda do petróleo, recebiam muito pouco por sua riqueza natural e não conseguiam financiar seu desenvolvimento. Mas os exportadores não estavam sozinhos nesse lado da moeda e a OPEP não era a única que se incomodava com os baixos preços do petróleo. As grandes empresas exploradoras de petróleo nos Estados Unidos também estavam muito insatisfeitas com os baixos lucros provocados pela concorrência do petróleo estrangeiro e há muito tempo faziam pressão para poderem aumentar os preços. Depois de anos de desenvolvimento financiado pelo petróleo barato e da expansão das indústrias americanas agora era chegada a hora dos barões do petróleo americano ganharem maiores lucros com o 'blackgold'. E nesse time estava, claro, também a família Bush. O grande fato por trás da primeira grande crise do petróleo é que, se de um lado os exportadores de petróleo ganharam muito com a alta dos preços e iniciaram uma era de ouro para a economia de seus países, as empresas petrolíferas norte-americanas também passaram a ganhar muito vendendo petróleo mais caro para sua a indústria e consumidor. Ou seja, todo mundo ganhou! Ou melhor, nem todos...
A alta do petróleo na década de 70 trouxe problemas enormes para as economias emergentes e sub-desenvolvidas. Países que estavam em crescimento, antes cheios de esperança no futuro, viram seus planos de atingirem o primeiro mundo afundarem como uma pedra no oceano, assim como suas economias que mergulharam em fortes recessões e em dívidas. O petróleo caro foi um dos principais fatores que levaram países como o Brasil a se enrolarem em dívidas e inflação alta no fim da década de 70 e por toda a década de 80. Mas muito pior foi para países sub-desenvolvidos que dependiam completamente da importação de produtos industrializados. As grandes fomes, desemprego, endividamento e emigração em massa de países da Ásia, África e América do Sul que assistimos ao longo das décadas de 80 e 90 não teve outro motivo senão a grande alta geral de preços que se seguiu à crise do petróleo, levando muitos países pobres à ruína.
Mas os Bush ganharam dinheiro. E continuam a ganhar.
Não sou anti-americano mas pergunto: será que não tinha outro jeito de ganhar dinheiro sem mergulhar milhões de pessoas na miséria e na fome?

2 comentários:

WLADMIR COELHO disse...

Marco Paulo, gostei muito da abordagem histórica a respeito do petroleo. Indico também:POLÍTICA ECONÔMICA DO PETRÓLEO

Blog voltado para análise de um tema atual contendo artigos, legislação, informações históricas. Visite: http://politicaeconomicadopetroleo.blogspot.com/

WLADMIR COELHO disse...

Meu caro Marco Paulo, gostei muito do seu texto e também indico:POLÍTICA ECONÔMICA DO PETRÓLEO

Blog voltado para análise de um tema atual contendo artigos, legislação, informações históricas. Visite: http://politicaeconomicadopetroleo.blogspot.com/

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