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27 abril 2010

The Logical Song

Quando éramos crianças tínhamos a sensação de que a vida era simples, mágica, feliz. Coisas simples eram capazes de nos provocar grande alegria. Não nos parecia difícil ser feliz, já que isso parecia depender muito mais de nós mesmos, de aproveitarmos nosso dia e nosso tempo livre, do que da expectativa dos outros tinham de nós ou do que conseguíssemos adquirir.

"When I was young
It seemed that life was so wonderful
A miracle, oh it was beautiful, magical"

Mas o tempo passa, crescemos, e somos ensinados, treinados e preparados a viver num mundo em que o que importa não é mais o que temos dentro de nós, não são mais as coisas simples, nem mesmo nossa vida individual por si mesma, mas sim o que temos, o que conquistamos e tenha valor social, o que vestimos, o trabalho que exercemos (a carreira). E nesse processo nos exigem que desviemos a atenção de dentro para fora, das coisas interiores para as externas, nos convencendo de que pensar em si é feio e egoísta.

"But then they sent me away
To teach me how to be sensible
Logical, (oh!) responsible, practical
And they showed me a world
Where I could be so dependable
(Oh!) clinical, (oh!) intellectual, cynical"

Mas a verdade é que não há como negar o que no fundo somos, o que no fundo realmente presisamos. Embora o tempo todo o mercado tente nos convencer do contrário, prometendo satisfação por meio de roupas, carros, sexo com pessoas "perfeitas" ou carreiras de sucesso, nossa felicidade não depende do que está fora de nós, mas de conhecer e ouvir o que está dentro de nós, no mais profundo de nosso ser. A felicidade depende de nos conhecermos, de sabermos quem somos de verdade e o que precisamos no mais profundo de nosso coração. O que importa não são as coisas, mas a pessoas. O que importa somos nós, cada um de nós.

"There are times when all the world's asleep
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am"

O problema é que quando pessoas olham para dentro e se convencem de que não vão conquistar a felicidade pelo que compram, constatam que a satisfação mais genuína e profunda pode ser conseguida com coisas simples e percebem que reconquistar a simplicidade perdida da infância é reconquistar o direito de pensar em si mesmo. Pessoas assim voltadas para si e para sua felicidade, que se conhecem e ouvem o mais profundo de seu ser, deixam de ser bons consumidores e profissionais altamente dedicados a suas empresas. A lógica da felicidade pessoal e da paz interior é loucura para o mercado e a sociedade de consumo, que exigem profissionais cada vez mais comprometidos com produtividade (da empresa, não de suas vidas pessoais) e consumidores cada vez mais vorazes. Não se engane: a prometem felicidade mas não entregam (como empacotar uma coisa imaterial, uma estado de espírito, numa mercadoria ou num status social que uma mercadoria ou uma posição social parece conferir?).

"I said now, watch what you say
Or they'll be calling you a radical
A liberal, (oh!) fanatical, criminal
(Oh!) won't you sign up your name
We'd like to feel you're
Acceptable, respectable, oh presentable, a vegetable"

Claro que não estou pregando o fim da economia de mercado, nem de nossa sociedade estruturada numa lógica de produtividade e consumo, mas estou perguntando: quanto vamos entregar de nossas vidas e energias sem guardar reservas para nós mesmos? Até onde vamos deixar que o exterior invada nossa vidas interiores e nossa individualidade? Até quando vamos inutilmente procurar a felicidade no que está fora de nós?

"But at night, when all the world's asleep
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you please (Won't you tell me), please tell me what we've learned
(Can you hear me?) I know it sounds absurd
(Wopn't you help me) please tell me who I am, who I am, who I am...

But I'm thinking so logical!"

Está na hora de traçarmos um limite, um circulo vital em torno de nós mesmos, protegendo parte de nosso tempo, de nossa individualidade, de nossa energia, de nossa emoção e criatividade para que usemos um pouco de tudo isso também em nosso favor, em favor dos que amamos, sem culpa, sem medo de parecermos egoístas. Tem que existir algo de nós mesmos que não tenhamos que entregar sob a ameaça pena de sermos vistos como rebeldes ou egoístas!
Talvez isso faça nossa empresa crescer um pouco mais devagar, mas acredite: ainda assim ela vai crescer. Talvez isso faça os índices econômicos crescerem de forma mais moderada, mas ainda vão crescer. Entretanto estaremos mais felizes.

Um comentário:

Meire Navarro Fujioka disse...

É nessa luta que vivemos: ter versus ser.
Ontem conheci um funcionário da empresa que hoje é de "chão de fábrica". É músico, guitarrista, mas deixou de tocar para sobreviver... Quisera vivermos numa sociedade mais democrática, sem este capitalismo selvagem que nos priva de nos dedicarmos a algo por paixão... Uns são felizardos e conseguem dedicar-se ao que gostam, outros não. Um beijo, e aguardo aquele almoço para filosofarmos... :)

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