Cabe aqui uma breve observação sobre o significado que aqui dou à palavra evolução. Os dicionários costumam relacionar evolução à idéia de mudança e movimento. E geralmente fazem isso associando a essa mudança ou movimento, (a) ou um caráter meramente transformativo, (b) ou um caráter ordinal. Neste último caso, a mudança ou movimento ocorre numa sucessão que contém em si uma certa ordem simbólica, como num caminho do menos para o mais, do inferior para o superior, do bárbaro para o civilizado. Não é assim que uso a palavra evolução. Em meu texto, evolução é simplesmente como definida no item 'a': mudança ou movimento num processo sem ordem além de causas e efeitos.
Dito isso, ressalto que não pretendo dizer que a cultura e a ética hoje é melhor ou superior às antigas, mas simplesmente diferentes, onde uma ou mais é posterior à outra ou outras, de forma que as mais recentes, em alguma medida, dependem das antigas e podem, em alguns aspectos, por causa dessa sucessão e do acúmulo de experiências, ser mais complexas. Muitos dirão que a complexidade e o acúmulo de experiências é uma coisa boa e que, no fim das contas, evolução significaria, sim, um melhoramento. Mas reafirmo que a evolução que gera um aparente melhoramento não é senão uma espécie no gênero evoluções. Certamente a espécie desejada, mas não a única possível (e a história tem diversos exemplos a apresentar).

E para onde essa "boa" evolução da história tem nos levado?
O direito inalienável ao corpo e à liberdade era sequer cogitado em tempos passados, quando pessoas pagavam com escravidão suas dívidas e isso era considerado justo. O direito inviolável à vida ainda é discutido atualmente, mas grande parte dos países já concordam que ninguém, nem o Estado, deve ter poder sobre a vida do ser humano. Mas até poucos séculos a pena de morte não sofria objeções significativas, muito menos por parte da Igreja. E o que está por trás de toda essa evolução é o crescente reconhecimento de que o outro, aquele que não é o próprio observador, lhe é semelhante na humanidade e, mais importante, na consciência. Em outras palavras, o que desagrada, causa dor ou dá prazer ao observador provoca as mesmas sensações no outro, e por isso todos devem ser iguais em direitos e obrigações. São direitos universais dos humanos.
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